sexta-feira, 9 de abril de 2021

Gautier, um mestre do conto fantástico

Figura destacada na vida literária do século XIX, Théophile Gautier (1811-1872)
abrangeu não só a crítica de arte e a poesia, como também o conto fantástico e o relato histórico. Graças à sua teoria da «arte pela arte», ficou conhecido sobretudo por liderar o movimento poético do Párnaso.

Em 1814, Théophile Gautier deixou suas «montanhas azuis» dos Pireneus e se instalou com sua família em Paris. No colégio Charlemagne, faz amizade com Gérard Labrunie (o futuro Gérard de Nerval) com quem compartilha o gosto pelos poetas latinos ditos decadentes, os «grotescos». Frequenta então o atelier do pintor Louis Édouard Rioult (1790-1855) e aspira a uma carreira de pintor.

Mas, em 1829, Nerval o introduz nos meios literários. Por intermédio de Pétrus Borel, Gautier conhece Victor Hugo, que o convence de sua vocação de escritor. Ligado à juventude romântica, Gautier se apaxona pelos debates artísticos e, por ocasião da batalha de Hernani em 1830, torna-se o grande defensor de Hugo. Na noite da primeira representação vestiu um extravagante colete vermelho, e esta imagem conquistou o valor de símbolo, que tornou Gautier desde então prisioneiro desta lenda.

Alguns meses depois, em plena revolução de julho de 1830, Gautier publica seu primeiro livro, Poesias. Mas a partir de 1833 ele proclama sua desconfiança pelos devaneios sentimentais do romantismo em uma coleção de contos, Jeune-France, novelas satíricas.

Paralelamente, revela vivo interesse em escrever relatos fantásticos. Admirador de Hoffmann, Gautier tinha publicado Cafetière em 1831. Passa a cultivar o gênero ao longo de toda sua carreira, sob a forma de contos ou de novelas. Assim, nós lhe devemos notadamente Omphale (1834), a Mort amoureuse (1836), Fortunio (1837), o Pied de momie (1840), Arria Marcella (1852), Avatar e Jettatura (1856), e Spirite (1865). O fantástico que marca o conjunto da obra do contista é menos ligado à temática que à sua expressão; é um fantástico mais esteta e irônico — mais próximo da «arte pela arte», defendido por Gautier — do que gótico.

Em 1835, retomando e desenvolvendo o prefácio de uma de suas primeiras obras, Albertus, o autor consagra o princípio teórico da «arte pela arte» no seu prefácio de Mademoiselle Maupin. Ali Gautier dá suas palavras de ordem: respeito pela arte, culto à beleza, amor ao ofício: «A arte, ele escreve, é a liberdade, o luxo, a eflorescência, é o florescimento da alma na ociosidade.» Daí em diante os excessos românticos estão banidos; apenas a beleza conta.

«As duas Musas de de Gautier são a Voluptuosidade e a Morte», escreve Baudelaire. Para escapar a estas duas tentações que o assombram, o poeta se voltará até à sua morte para um sonho de beleza: «a arte pela arte» será para ele um esforço de todos os instantes para dar um sentido à sua vida, a busca inquieta da perfeição traindo seu desejo de tornar eterno o que não é senão efêmero e provisório. Aos olhos de Gautier, a arte permanecerá assim como a única fonte saudável na melancolia dos dias.

Após o sucesso da ópera Giselle (1841), cujo libreto foi escrito por ele, depois das fascinantes histórias de viagens Tra los montes (1843, mais tarde publicado sob o título Voyage en Espagne) e Voyage en Italie (1852), após os versos d’España (1845), Gautier finalmente chegou ao ápice com a coleção de poemas habilmente burilados: Émaux et Camées (1852). Para ele, o tema importa menos que as palavras e o arranjo delas. Nesta ocasião, o Parnaso reconhece Gautier como seu mestre. Pouco depois, Baudelaire lhe dedicará as Flores do Mal nestes termos: «Ao poeta impecável / Ao perfeito mago das letras francesas.»

No entanto, na segunda metade do século XIX, o trabalho de Gautier não se limitou à pesquisa formal que beirava a preciosidade. Produziu também incontáveis ​​crônicas de arte e literatura que logo são reunidas em volumes (as Belas Artes na Europa, 1855, a Arte Moderna, 1856; arte da Rússia antiga e moderna, 1859), e também os famosos romances históricos (O Romance da Múmia, 1858, Capitaine Fracasse, 1863), um diário de viagem (Voyage en Russie, 1866) e um ensaio (Histoire du romantisme, 1872).

Fonte:

http://www.larousse.fr/encyclopedie/personnage/Th%C3%A9ophile_Gautier/120969


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