domingo, 1 de janeiro de 2023

BAUDELAIRE EM PROSA

Um Baudelaire pouco conhecido emerge numa coletânea de textos onde ele retrata personagens e situações, com sensibilidade e profundo interesse humano.

Texto de Bira Câmara

Nos anos 50, a extinta editora Vecchi publicou um opúsculo com o título Ara­bescos Filosóficos, que na verdade é composto de excertos de obras de Bau­de­laire, De L’Amour, Mon coeur mis à nu e Le Spleen de Paris, também conhecida com o título «Petits Poèmes en Prose». Nesta ree­dição de Arabescos, além da atualização ortográfica, selecionamos mais alguns pensamentos e textos dos poemas em prosa.

O leitor deve ser condes­cen­dente com as ambigui­dades da con­cep­ção baudelai­reana do amor e suas consi­de­rações sobre a mulher, pois é difícil distinguir a provo­ca­ção da sinceridade nas de­cla­rações do poeta. Nos dias de hoje, por certo mui­tas de suas ideias serão conde­na­das co­mo politica­mente in­corre­tas.

Baudelaire utiliza o termo dan­dismo para designar uma atitude de vida: o dândi é um esteta, distingue-se pelo des­prezo pelas mas­sas, por tudo que é comum e vulgar, e sua úni­­ca preocupação é com a ori­ginalidade e o refina­mento. Para ele, o dandismo é co­mo «uma espécie de culto de si-mesmo (...) uma espécie de re­ligião».

Já nos «Pequenos Poemas em Prosa», Baudelaire deixa de lado o cinismo e o espírito pro­vo­cador, para fazer um painel da miséria humana. Aqui, ele con­ti­nua a experiência descrita na se­ção «Pin­turas parisienses» de Les Fleurs du mal e mais uma vez sai às ruas da cidade grande para observar e retratar a mul­tipli­ci­dade de tipos e situações, a velhi­nha enrugada, o velho sal­tim­ban­co, as viúvas, os po­bres. E tudo isso, na verdade, são varia­dos espelhos que lhe devolvem a imagem de sua própria ruína.

Esta obra foi publicada pela pri­meira vez no quarto volume das Obras Completas de Baude­laire, em 1869, após a sua morte, organizada por Charles Asselineau e Théodore de Banville. Os cin­quenta textos que compõem esta coletâ­nea foram escritos entre 1857 e 1864.  Cerca de quarenta deles apareceram em vários jor­nais da época. Segundo a vontade de Baudelaire, alguns dos poe­mas foram publicados na revista lite­rária L’ Artiste, editada por seu amigo Arsène Houssaye a quem dedicou seu trabalho, e outros em jornais de grande circulação como La Presse ou Le Figaro. Numa carta de 1862, que serve de dedi­catória às edições posterio­res, o poeta revela que se inspirou ao escrevê-los no exem­plo de Aloy­sius Bertrand.

Spleen et Idéal (1907
Aquarela e guache de Carlos Schwabe
  (1866-1926)
Até meados da década de 1960, Baudelaire era conside­rado o autor de apenas um livro, Les Fleurs du Mal, cuja publicação du­rante a sua vida reforçaram a im­portância da­da ao seu trabalho em verso. Vários de seus escritos de crítica de arte, como O Pintor da Vida Moderna, publicados na im­prensa francesa, também foram reu­nidos após a sua morte.

O título Petits Poèmes en prose é o da edição póstuma de 1869, em­bora o próprio Baudelaire te­nha repetidamente mencionado o título Le Spleen de Paris para de­signar esta obra, que é seme­lhante aos títulos de duas partes de Les Fleurs du mal: Spleen et Idéal e Tableaux parisiens. 

Quanto ao título em si, é o termo spleen que deve ser desta­cado, mais do que ao lugar cha­mado Paris, pois como vemos na leitura da coleção, esta cidade não é o cenário principal da experiên­cia poé­tica. Mas o spleen de Bau­delaire é de fato uma doença dos marginais de Paris, e ele nos apre­senta o diagnóstico de um mal-estar social ligado a uma cidade mais do que uma simples indica­ção geográfica para caracterizar sua criação poética.


ARABESCOS FILOSÓFICOS & Prosas POÉTICAS

Charles Baudelaire

Brochura, 122 páginas, formato 14 X 21 cm.

Bira Câmara Editor, 2022


PEDIDOS: jornalivros@gmail.com






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