Um Baudelaire pouco conhecido emerge numa coletânea de textos onde ele retrata personagens e situações, com sensibilidade e profundo interesse humano.
Texto de Bira Câmara
Nos anos 50, a extinta editora Vecchi publicou um opúsculo com o título Arabescos Filosóficos, que na verdade é composto de excertos de obras de Baudelaire, De L’Amour, Mon coeur mis à nu e Le Spleen de Paris, também conhecida com o título «Petits Poèmes en Prose». Nesta reedição de Arabescos, além da atualização ortográfica, selecionamos mais alguns pensamentos e textos dos poemas em prosa.
O leitor deve ser condescendente com as ambiguidades da concepção baudelaireana do amor e suas considerações sobre a mulher, pois é difícil distinguir a provocação da sinceridade nas declarações do poeta. Nos dias de hoje, por certo muitas de suas ideias serão condenadas como politicamente incorretas.
Baudelaire utiliza o termo dandismo para designar uma atitude de vida: o dândi é um esteta, distingue-se pelo desprezo pelas massas, por tudo que é comum e vulgar, e sua única preocupação é com a originalidade e o refinamento. Para ele, o dandismo é como «uma espécie de culto de si-mesmo (...) uma espécie de religião».
Já nos «Pequenos Poemas em Prosa», Baudelaire deixa de lado o cinismo e o espírito provocador, para fazer um painel da miséria humana. Aqui, ele continua a experiência descrita na seção «Pinturas parisienses» de Les Fleurs du mal e mais uma vez sai às ruas da cidade grande para observar e retratar a multiplicidade de tipos e situações, a velhinha enrugada, o velho saltimbanco, as viúvas, os pobres. E tudo isso, na verdade, são variados espelhos que lhe devolvem a imagem de sua própria ruína.
Esta obra foi publicada pela primeira vez no quarto volume das Obras Completas de Baudelaire, em 1869, após a sua morte, organizada por Charles Asselineau e Théodore de Banville. Os cinquenta textos que compõem esta coletânea foram escritos entre 1857 e 1864. Cerca de quarenta deles apareceram em vários jornais da época. Segundo a vontade de Baudelaire, alguns dos poemas foram publicados na revista literária L’ Artiste, editada por seu amigo Arsène Houssaye a quem dedicou seu trabalho, e outros em jornais de grande circulação como La Presse ou Le Figaro. Numa carta de 1862, que serve de dedicatória às edições posteriores, o poeta revela que se inspirou ao escrevê-los no exemplo de Aloysius Bertrand.
Spleen et Idéal (1907 Aquarela e guache de Carlos Schwabe (1866-1926) |
O título Petits Poèmes en prose é o da edição póstuma de 1869, embora o próprio Baudelaire tenha repetidamente mencionado o título Le Spleen de Paris para designar esta obra, que é semelhante aos títulos de duas partes de Les Fleurs du mal: Spleen et Idéal e Tableaux parisiens.
Quanto ao título em si, é o termo spleen que deve ser destacado, mais do que ao lugar chamado Paris, pois como vemos na leitura da coleção, esta cidade não é o cenário principal da experiência poética. Mas o spleen de Baudelaire é de fato uma doença dos marginais de Paris, e ele nos apresenta o diagnóstico de um mal-estar social ligado a uma cidade mais do que uma simples indicação geográfica para caracterizar sua criação poética.
ARABESCOS FILOSÓFICOS & Prosas POÉTICAS
Charles BaudelaireBrochura, 122 páginas, formato 14 X 21 cm.
Bira Câmara Editor, 2022
PEDIDOS: jornalivros@gmail.com
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