Hernán Cortés, o célebre conquistador espanhol, tinha um astrólogo entre os seus guerreiros, figura temida e respeitada, que foi um dos protagonistas do célebre episódio que passou para a história como A Noite Triste.
Texto de Bira Câmara, extraído do Livro “Astroanedotário”
A história da conquista do México é recheada de histórias e lendas, algumas das quais, apesar de serem aceitas como verídicas acabaram refutadas pelos historiadores. Este é o caso das lágrimas derramadas por Hernán Cortés ao pé de um cipreste na célebre Noche Triste. Nesta ocasião, Cortes tinha viajado para Veracruz, para enfrentar a frota de Diego Velazquez, enviada de Cuba para levá-lo preso e o punir por sua indisciplina. No caminho, o comandante espanhol recebeu a notícia de que os nativos de Tenochtitlan rebelaram-se contra a guarnição espanhola. O que aconteceu na verdade é que Pedro de Alvarado, deixado no comando da expedição, com medo de um ataque dos nativos, empreendeu um feroz massacre dos astecas enquanto assistiam a uma cerimônia religiosa.
Em resposta, milhares de guerreiros atacaram os espanhóis em uma batalha que durou dois dias. No terceiro dia, Cortés obrigou Montezuma – que estava detido no abrigo do espanhol como garantia de segurança para os seus comandados –, a ordenar ao seu povo que permitisse a partida dele e de seus companheiros. Montezuma concordou, mas, segundo a história oficial, os astecas reagiram com insultos e pedras, e Montezuma foi ferido. Com o fracasso de sua tentativa de abandonar Tenochtitlan, os espanhóis decidiram fugir na noite de 30 de junho de 1520, depois de matarem Montezuma.
Com a ajuda de centenas de guerreiros da tribo Tlaxcala, eles levantaram uma ponte de madeira para atravessar o lago. Como também estavam carregados com os tesouros que haviam recolhido, não puderam imprimir ritmo acelerado à sua marcha. Os guardiães do templo asteca perceberam a fuga e alertaram o povo. Assim começou a perseguição, que terminou algumas horas depois, com trágicas perdas para as fileiras espanholas.
O cipreste ao pé do qual Hernán Cortés teria chorado na noite de 30 de junho de 1520. (Ahuehuete de La Noche Triste, pintura por José María Velasco, 1884). |
Há um detalhe neste episódio que caiu no esquecimento: entre os homens de Cortés havia um astrólogo, muito respeitado e temido por eles chamado Botello, amigo e compadre de Bernal Diaz, que registrou para a posteridade a história da conquista do México. Os historiadores em geral desprezam a importância deste personagem, misto de bruxo e astrólogo temido pelo próprio Cortés. Os conquistadores espanhóis, como homens de seu tempo, não estavam imunes às superstições da época e atribuíram a Botello as sucessivas catástrofes daquela noite. Segundo Bernal, Botello era um homem de boa aparência e, como viajara a Roma, encantava os companheiros com seu relato da peregrinação religiosa; mas na verdade, ele era adepto da necromancia.
Quatro dias antes da trágica derrota, o bruxo lançara a sorte a pedido de Cortés e, segundo seus cálculos astrológicos, se durante a noite de 30 de junho os espanhóis não abandonassem imediatamente o México, nenhum soldado castelhano sairia dali com vida. O resto da profecia era igualmente funesta para Cortés, que estava ameaçado na sua honra e reputação.
Mas Botello não era tão bom adivinho a ponto de prever o que aconteceria a si próprio: cercado por centenas de mexicanos, sobrecarregado das joias e pedras preciosas que Cortés abandonara a quem quisesse levar, não conseguiu escapar e perdeu a vida golpeado por uma pedra atirada pela funda de um asteca. Depois de sua morte, ao ver que a profecia não se realizara por completo, Cortés recobrou sua coragem. Foi então que teria parado por alguns momentos aos pés do cipreste de Popotlan, para tomar as medidas necessárias a fim de assegurar sua retirada. Neste instante tudo lhe faltava, menos seu gênio; e o seu gênio o salvou então…
O ataque dos mexicanos tinha sido admiravelmente combinado, mas ele conseguiu frustrá-lo. Depois de marchar durante quatro dias, sempre assediados e sem provisões, os espanhóis chegaram a Otumba, onde estava o novo exército. Ao grito de vitória lançado por Bernal Dias, soube-se que Botello estava morto e que o grande herói tinha voltado.
Bibliografia:
Charton, Édouard, Voyageurs anciens et modernes, ou Choix des relations de voyages les plus intéressantes et les plus instructives depuis le cinquième siècle avant Jésus-Christ jusqu’au dix-neuvième siècle.(1893) Tome troisième, Voyageurs modernes, quinzième siècle et commencement du seizième / pág. 414.
Croonenberghs, Charles (1843-1899). Trois Ans dans l’Amérique septentrionale, 1885, 1886, 1887… par le P. Charles Croonenberghs, 1893.
Díaz del Castillo, Bernal (1568) Historia verdadera de la conquista de la Nueva España, (texto na web cervantesvirtual)
Dussieux, Louis, Les grands faits de l’histoire de la géographie: recueil de documents destinés à servir de complément aux études géographiques (1882), Vol. I, págs. 179/192.
López de Gómara, Francisco, Historia de la Conquista de México, Prólogo y estudio preliminar de Miralles Ostos, Juan; ed.Porrúa.
Vázquez Chamorro, Germán (2003) La conquista de Tenochtitlan, colección “Crónicas de América”, compilación de los cronistas J.Díaz, A.de Tapia, B.Vázquez, F. de Aguilar; Dastil.
Astroanedotário – Histórias da Astrologia
de Bira Câmara. 237 págs., 14X21 cm.
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