sexta-feira, 9 de abril de 2021

A ficção científica no Brasil

Em 1868, Joaquim Felício dos Santos (1828-95) deu o pontapé inicial no gênero ao publicar o folhetim Páginas da História do Brasil, escritas no ano 2000, uma sátira à monarquia que incluía detalhes ante­cipatórios da tecnolo­gia em curso, tais como a “telegrafia elétrica”, os “paquetes aerostá­ti­cos”, uma “estrada-de-ferro submarina” entre a França e a Inglaterra e a exploração dos pólos.

Texto de Cláudio Suenaga


Joaquim Felicio dos Santos
Grandes nomes de nossa literatura incursio­naram pelo gênero, ainda que de forma espo­rá­dica e como
exercício diletante, sem compro­mis­so firmado com um estilo ou movimento de­fi­nido, entre eles Machado de Assis (1839-1908), Rodolfo Teophilo (1853-1932), Emilia Frei­tas (1855-1908), Aloísio de Azevedo (1857-1913), Coelho Neto (1864-1934), Humberto de Campos (1866-1934) e Godo­fredo Emerson Barnsley (1834-?). Os destaques ficam para Albino José Fer­reira Coutinho (1860-1940), autor de A liga dos planetas (1923), o primei­ro romance brasi­lei­ro onde aparecem via­gens espaciais; Gastão Cruls (1888-1859), autor de A Amazônia miste­riosa (1925), sobre um grupo de exploradores que descobre uma tribo de mu­lheres guerreiras, descendentes dos incas, e um cientista alemão que usa os índios como co­baias em suas expe­riências genéticas, nitida­mente inspirado em A ilha do Dr. Moreau, de H. G.Wells; e Monteiro Loba­to (1882-1948), autor de O cho­que das raças (1926), intitulado depois de O presi­dente negro, em que um cien­tis­ta constrói um instru­mento para ob­ser­var o futuro.

Da mais alta relevância para a antecipação na­cional é Mennotti Del Picchia (1892-1988), autor de A República 3000 (1930), reintitulada depois como A filha do inca para que o público não o tomasse co­mo uma obra política. O ro­man­ce versa sobre uma expedição que, partindo do Rio de Janeiro para desbravar os sertões goia­nos, é dizimada por febres, feras e índios, só restando um erudito capitão e um cabo simplório, os quais esbarram numa imensa barrei­ra energé­tica de ossos de animais e de seres humanos de todos os tempos, uma espé­cie de cam­po de força que carboniza os que tentam transpô-la. Mas a dupla consegue ultrapassá-la e é aprisio­nada por homúnculos robotóides de um só olho, com dois dedos nos tentáculos. Estes seres, descen­den­tes dos cretenses e dos incas, habitam uma cida­de metálica, a República 3000. 

Nos anos 30, as obras continuariam a proliferar de modo casual. A mulher do Diabo (1931) e Século XXI (1934) fecham a trilogia de Berilo Neves (1901-1974) iniciada com A costela de Adão (1929). Em suas histó­rias ambientadas nos anos 1980, 2000 e 5432 e no século 35, engenhocas futuristas apare­cem em abundância. Em 1934, Epaminondas Mar­tins contaria uma aventura passada em Netuno no seu O outro mundo. Zanzalá (1936), de Afonso Schmidt, é uma novela que se de­sen­rola no ano 2028 num vale do interior de São Paulo. Em 1939, seria a vez de Érico Veríssimo (1905-1975) sair com o seu Viagem à aurora do mundo.


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