No século XVII proliferaram sociedades secretas de todos os tipos, inclusive dedicadas à prática das mais inusitadas perversões sexuais.
Texto de Bira Câmara
Confissões da Senhorita Safo é a história da “seita anandrina” ou sociedade secreta das tríbades de Paris, que floresceu pelos fins do século XVIII. Embora publicado anonimamente, o autor deste livro foi o inquieto e famoso Mathieu François Pidansat do Mairobert (1727-1779).
O termo anandria vem do grego e equivale a “sem homem”. Compreende-se, portanto, quais as práticas de uma comunhão ou sociedade de prazeres que tem o nome de “seita anandrina”. Significa a mesma coisa que “tríbade” (também do grego) e “fricatrix” (do latim).
Retrato de Pidansat de Mairobert |
O doutor alemão Eugen Duehren, autor de um estudo sobre “O Marquês de Sade e sua época”, explica como existiram de fato aquilo que o divino marquês pintou sob a denominação de “Sociedade dos Amigos do Crime”. Havia em Paris diversos clubes secretos que possuíam templos presididos por estátuas de Príapo ou de Safo, ou por distintos símbolos das delícias do amor sexual. A “Ilha da Felicidade” ou “Ordem da Felicidade” ou “Sociedade dos Hermafroditas”, era o mais famoso clube de Eros, fundara-o o libertino senhor de Chambonas e nas suas reuniões orgiásticas se pronunciavam os discursos mais obscenos. Outro clube era o “dos Afroditas”, em cujos ritos os homens tinham nomes de minerais e as mulheres nomes de flores e plantas. Outro, do qual se achou o manuscrito contendo o regulamento, a descrição das insígnias e a lista dos membros com os seus nomes de prazer, era o que se chamava “Sociedade do Momento”, onde se praticavam as mais ignóbeis imundícies lúbricas. E por fim cita Duehren esta “Seita Anandrina”, como a quarta Sociedade Pornosófica, que celebrava as suas orgias no templo de Vesta.
A vida agitada de Mairobert
Filho de François Pierre Pidansat, meirinho do duque de Aumont, comissário-tenente juiz do município de Paris (1727), e de Nicole Picardat, Mairobert foi criado por Marie Anne Doublet de Persan, de quem dizia ser filho.
Desde cedo se viu envolvido nas intrigas e brigas do mundo das letras. Ocupou o cargo de censor real e o título de secretário do rei do duque de Chartres. Até sua morte, ele também contribuiu para a crônica cultural e política nas "Mémoires Secrets", tradicionalmente atribuída a Louis Petit de Bachaumont. Os seus laços estreitos com o "Parti Patriote" e as ligações com Restif de la Bretonne levaram-no a ser vigiado pela polícia.
Sua obra mais conhecida é "Anecdotes sur la comtesse du Barry" (Londres, 1775) e "L'Observateur anglais" (Londres [Amsterdam], 1777-1778, em 4 vol.), de onde foi extraída a curiosa narrativa da Senhorita Safo.
Em 1779, ele foi comprometido durante o julgamento do Marquês de Brunoy, de quem era credor de uma soma considerável. Embora se pensasse que ele estava agindo apenas como um agente de uma pessoa superior, o Parlamento de Paris infligiu uma reprimenda pública a ele por decreto em 27 de março de 1779. Acreditando-se em desgraça, Mairobert foi naquela noite a uma casa de banhos, onde abriu suas veias com uma navalha na banheira antes de de se matar com uma pistola. O pároco da Igreja de Saint Eustache de Paris só consentiu em enterrá-lo por ordem expressa do rei. Restif de la Bretonne o lamentava amargamente e ia todos os anos, no aniversário de seu suicídio, visitar sua casa para comemorar a data.
Confissão da Senhorita Safo
Mathieu François Pidansat de Mairobert
Confession de Mademoiselle Sapho ou La Secte des Anandrynes. Clássico erótico francês do século XVIII. História ingênua e deliciosa de uma libertina precoce e de uma sociedade secreta de amor lésbico. Com ilustrações da época.
Brochura, formato 14 x 21 cm, 102 páginas. Ilustrada.
PEDIDOS: jornalivros@gmail.com
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